sexta-feira, 11 de julho de 2008

8 de julho

Hoje foi um dia de grandes emoções.
O dia começou em kirinda, uma pequena aldeia de pescadores na costa sul do país.
Depois de mais uma noite num sítio horrendo (um eufemismo ou uma má piada, poderia ser: um hotel em desenvolvimento), descobri o templo de kirinda. Um pequeno templo no topo de um afloramento rochoso, onde imensas árvores “temple tree” (para os afortunados que conhecem bali: são ás arvores das flores brancas super perfumadas) dão sombra aos espaços de oração. No chão a areia conforta os pés que obrigatoriamente estão descalços. Finalmente, o templo budista, branco e redondo premeia o promontório sob o qual o mar e a paisagem envolvente são a perder de vista. Lindo!
Depois do tempo de contemplação, fomos conhecer as casas do Shigeru Ban, um arquitecto japonês muito conhecido. Estas casas eram para mim (ou são, já não sei) a jóia da coroa dos projectos de reconstrução pós-tsunami. São casas onde uma tipologia foi criada, supostamente para melhor responder às necessidades sociais e espaciais daquela comunidade. O resultado é um desastre: as casas são lindas, a tipologia super interessante, os materiais a condizer mas as pessoas detestam-nas.
Depois deste pesado insucesso voltámos ao projecto UN-Habitat em Yodankandya, perto de Kirinda, que já tínhamos visitado no dia anterior com o responsável local desta organização. O senhor não era de grandes conversas e, nessa altura, ficaram muitas perguntas por fazer. Por isso, voltámos. Queria confirmar com a população a autenticidade do conceito de intervenção que a UN-Habitat tão insistentemente apresenta: a comunidade participa em todas as fases do projecto, desde a concepção à construção. Confirma-se. A agência consultou a comunidade para a definição da «planta» (nem acredito que escrevi isto!), atribuiu uma verba a cada família, e coube a cada agregado construir a sua própria casa através da contratação de mão-de-obra qualificada ou não. Cada um adaptou a «planta» original às suas necessidades e gostos, e o resultado é que são as únicas pessoas que alegremente afirmaram que gosta da sua nova casa.
Duas histórias que vão dar muito que pensar. Com certeza que voltarei a este tema mais tarde, preciso do tempo de incubação para produzir uma opinião.
Depois das visitas aos projectos, fomos a Kataragama. Felizmente que dois dias depois de começar a viagem, pedi ao Lalith para me mostrar sítios a não perder no Sri Lanka. Este foi um deles. Trata-se de um local sagrado de peregrinação para budistas, muçulmanos e hindus. Aqui todos se dirigem sempre, em qualquer altura do ano, a qualquer hora. Há momentos de maior concentração: final do dia, de manhã cedo, ao fim de semana e durante o festival que anualmente acontece nesta altura do ano. Hoje, ao meio-dia (em plena hora do calor!) lá estávamos. Laltih informou-me que era muito raro ver um branco por ali… e logo eu tão branca!
Foi uma visita inesquecível, sobretudo porque, quando já estávamos de saída, tive a sorte de assistir à procissão dos elefantes que anualmente, ou seja uma vez por ano, trazem as folhas sagradas para cobrir as entradas dos templos. Eu que tinha passado a manhã a dizer que queria ver elefantes, nem queria acreditar! Fotografias se seguirão.
Depois deste momento zen tive os 40/50 minutos mais stressantes da minha vida… de Kataragama sai uma estrada para Butalla (o nosso destino seguinte) que tem estado fechada até há pouco tempo por questões de segurança. O Laltih, que é policia, fez os seus contactos e concluiu que poderíamos fazer essa estrada. Eu insisti, mas veja lá não vale a pena, damos a volta e tal, «no, madam. It’s safe», ele insistia. Ok, lá fomos. Bom, confesso que quando chegámos à dita estrada e percebi que ele estava com medo, ía morrendo! Foram cerca de 30km de «muito medo»! A estrada atravessa o Yala Park, um parque natural conhecido pela sua vida selvagem - pelos os vistos este grupo inclui para além dos elefantes, leopardos e companhia, os Tigre Tamil. Ao longo desses 30km, a vegetação foi cortada dos 2 lados da estrada, numa faixa de 20m, de modo a que se alguém atacar sejam pelo o menos visíveis… morrer em consciência, porreiro! De quilómetro em quilómetro, ou de 500 em 500 metros (ou até menos) havia um posto militar, verdadeiros bunkers. Isto tudo e mais o facto de sermos praticamente os únicos na estrada, numa carrinha azul que (fiquei a saber então) é a cor de tudo o que é militar, policia, etc. Muito bom… o stress foi tal que não tirei nenhuma fotografia. Imaginem, eu no bunker, eu a levar um balázio…
Enfim, fica uma bela história para contar, mas já disse que não quero brincar mais aos rambos e amanhã em vez de irmos para a costa este, onde o ambiente não é muito bom, vou fazer turismo e ver coisas bonitas!
Quanto ao Lalith, não fiquemos a achar que é um irresponsável… ele de facto informou-se, e a verdade é que aquela zona agora é segura, mas é ainda uma zona de grande instabilidade.
Depois disto tudo, estou em Monaragala, num hotel mortalmente piroso mas suficientemente equipado e limpo para poder estar a fazer o que gostaria de ter feito todos os dias: escrever as histórias do dia! Agora só tenho que esperar por chegar a um sítio com Internet, talvez no fim-de-semana….

2 comentários:

. disse...

the smell of tiger precedes tiger.

Isto e tudo o que o alexandre te queria dizer. Eu deixei um comentario que nao ficou. Qua aventuras fantasticas. Por ca nao ha grandes novidades. Ja temos saudades a julia pergunta por ti dia sim dia nao.

"1 2 eu vou fa-zer uma carta e 2 de-se-nhos eu mais vou dar um vaso pintado.
Tia Maria" Isto foi a Julia que me disse para escrever ao segredo.
Agoara a julia disse "foi bom nao foi? Mas agora temos de fazer o vaso"

beijinhos de todos

Marta

Unknown disse...

olá mary,
também te vou fazer um vaso pintado, com motivos das caldas.
beijos e saudades, sergio