quarta-feira, 30 de julho de 2008


campo de becora

campo Taci Tolo

campo de Becora

abrigos temporários

Apesar de não fazer parte da minha proposta inicial de investigação, não pude deixar de abordar a questão da recolocação dos refugiados que está a decorrer em Díli.
em campos no centro da cidade. Aconteceu um êxodo em massa dentro da mesma cidade. As pessoas fugiram dos seus bairros e procuraram abrigo nos campos localizados em diferentes pontos da cidade, no centro, no aeroporto, etc.
Após 2 longos anos de grande instabilidade politica, está agora a decorrer o encerramento dos campos e as pessoas estão a ser acompanhadas no regresso a casa.
No entanto, nem toda a gente pode regressar a casa. Muitas famílias não podem e não querem regressar por questões de segurança. Para estes casos de difícil resolução o Governo aceitou a intervenção da ONG Norwegian Refugee Council (NRC) e disponibilizou vários terrenos para a construção de “abrigos temporários”. O NRC foi responsável pela construção de cerca de 600 abrigos e está preparar a construção de mais 500. Os abrigos pretendem-se efectivamente temporários e esta condição é sempre muito difícil de concretizar; por um lado há que construir um abrigo condigno capaz de responder às necessidades de protecção, segurança e privacidade dos utentes, por outro estas construções para serem de facto temporárias não podem ter o conforto e a dimensão de uma habitação permanente… esta dicotomia é muito difícil de concretizar, levanta tantas questões e normalmente não reúne consensos. É neste contexto que foram construídos os abrigos temporários em Díli.
A maior parte dos terrenos que o governo disponibilizou já se encontravam edificados com estruturas por reabilitar e foram recuperadas na forma de abrigos temporários. O NRC fez um trabalho interessante na reconversão tipológica dos velhos edifícios e na recuperação de alguns materiais e técnicas construtivas locais nas novas construções.
Cada abrigo e constituído por um espaço de 16m2, que pode ser subdividido pelos os utentes com materiais leves e de fácil construção.
A distribuição dos abrigos por número de pessoas também foi controversa e o governo acabou por estabelecer que seria atribuído um abrigo por família. Ora em Timor-Leste a média de filhos por casal é de 7, ou seja, no mínimo cada abrigo de 16 m2 alojará 9 pessoas!
Cozinhas e casas-de-banho foram construídas em volumes autónomos em pontos de acesso comum.
Na visita que fiz a estes campos fiquei impressionada com a rápida apropriação e adaptação que as pessoas fazem no seu espaço de habitar. Felizmente a imaginação não tem limites e já se encontrem extensões de alpendres, construções de pequenas bancas de venda, etc.

Musalam na EB Gleno

EB Gleno

um bom exemplo

Depois de uns dias em Díli, ontem voltei à estrada, desta vez em direcção a Gleno. Tive o prazer de ser acompanhada pelo Musulam e o Domingos. O primeiro é arquitecto e foi com ele que conseguimos estabelecer uma excelente relação profissional cimentada numa bela amizade.
O nosso objectivo era visitar a EB de Gleno que segundo sabíamos era aquela onde melhor tem sida garantida a sua manutenção. Ao fundo da rua já se distinguiam os edifícios cor-de-rosa, cor (infelizmente) escolhida para este tipo de escolas – as primárias tiveram mais sorte e são todas amarelas. Quando chegamos fomos recebidos pelo director da escola, o Sr. Juvenal Exposto, que reclama ascendência directa ao primeiro português a pisar o solo timorense! Este senhor merece ficar para história pelo papel que tem desempenhado na manutenção e promoção da qualidade, não só dos edifícios mas sobretudo a nível pedagógico. O resultado é uma escola onde 1400 alunos ocupam 10 salas de aula em excelentes condições. Há grupos de alunos que se revezam na limpeza da escola e os pais são regularmente chamados a participar na prestação escolar dos filhos. O director, bem consciente da dinâmica dos projectos de desenvolvimento, recorre sistematicamente a diferentes ONG para financiarem a reabilitação da escola. Assim, a escola conta com uma biblioteca, campo de jogos, 2 tanques de água… tudo isto estava previsto no nosso projecto mas no processo de redução de custos ficou esquecido.
A EB de Gleno, infelizmente, é uma excepção. Todas as escolas estão votadas ao abandono e muitas já se encontram degradadas.
Qualquer dia vai ser preciso lançar um novo projecto de milhões para recuperar estas escolas… é esta a perversidade dos projectos de desenvolvimento.

Maubara

artesanato

É também bom ver que o artesanato tem progredido, no sentido em que é hoje visto como uma efectiva fonte de rendimento e não como uma actividade esporádica de rendimento pontual. Em Maubara as senhoras organizaram-se através de uma ONG e as bancas têm uma variedade de produtos muito maior e igualmente bonitos. Em Ataúro, outra ONG, conseguiu mobilizar a comunidade na produção de artesanato e hoje as Bonecas de Ataúro são uma referência económica e cultural neste país. As eco-jóias de Ataúro também são vendidas em Díli e tal como o nome indica são colares e pulseiras feitos de materiais naturais, como conchas, pedras, etc.

a caminho de suai

estradas

Retomar as viagens pelas estrades de Timor significa rever um país lindo de morrer.
Foi com grande satisfação que constatei, na viagem a caminho de Suai, que grande parte das casas substituíram as coberturas de chapa ondulada por materiais tradicionais. Também reparei que há mais animais domésticos, sobretudo vacas… hoje vêem-se manadas de vacas, há seis anos acontecia cruzarmo-nos com uma vaca.
Há também um cuidado muito maior nos arranjos exteriores das aldeias e as buganvílias (as quais tinha esquecido) continuam a pontuar a frentes “urbanas” ao longo da estrada.
Viajar nestas estradas continua ser um constante desafio à vida… nossa, dos outros, dos porcos, dos galos, das vacas e dos búfalos que a qualquer momento se atravessam no nosso caminho. Para além do desastre que seria matar qualquer um destes seres vivos, há o problema de custo, como dizem os Timorenses “vale mais morto do que vivo”, isto é o preço a pagar pelo franganito morto é 3 vezes mais que o bicho são e salvo!

EP Holpilat - o novo protótipo

as novas escolas

As escolas que publiquei anteriormente são as escolas construídas até há 1 ano atrás… daí para cá o projecto foi revisto segundo as novas prioridades do governo que infelizmente aposta na quantidade e não qualidade. O resultado é muito triste, pois as novas escolas são estruturas muito frágeis que muito rapidamente se degradarão. Fiquei super desiludida… é difícil aceitar uma alteração tão grande nos objectivos de um projecto do qual fizemos parte e onde a qualidade era a prioridade máxima.

sábado, 26 de julho de 2008

EP Foholulik


Graças à generosidade dos meus colegas de viagem e a um desvio de 3 horas, pude ir visitar uma das escolas que mais queria ver: a EP de Foholulik. Esta escola teve que ser construída num terreno muito íngreme, o que obrigou à construção de plataformas e muros de suporte. Depois de grandes discussões com os engenheiros o projecto revelou-se não só possível como foi muito bem construído. Um gosto de ver!

EP Waibaba


A Escola Primária (EP) de Waibaba é também uma das primeiras desenhadas pelo grupo das EP e corresponde ao primeiro protótipo, de entre muitos, dos edifícios das salas de aula. Em comparação com os outros que se seguiram e sobretudo com aqueles que estão agora a ser construídos, estes edifícios são um luxo!

EB Ainaro

Escola Básica (EB) de Ainaro, a primeira paragem.

Que emoção, esta escola foi o primeiro projecto do grupo das EB e está construída com grande fidelidade ao projecto. Foi um choque constatar a degradação em que os edifícios se encontram, a falta de manutenção e a pouca capacidade dos utentes se relacionarem com este tipo de construções são provavelmente as grandes causas para o estado de abandono da escola.

regresso

Depois de um fim-de-semana de lenta consciencialização de que estava de volta, fui na 2ª feira de manhã ao Ministério da Educação, o nosso local de trabalho e onde está (ainda) instalada equipa responsável pelo programa da construção de escolas em todo o território. Após uma emocionada recepção combinei com o Almério (o coordenador do projecto) que ainda nessa semana me juntaria à equipa que ia a Suai. Fiquei radiante pois era mesmo esta viagem que queria fazer porque, por um lado é um trajecto lindíssimo, pois temos que atravessar a ilha para a costa sul o que implica muitas e muitas horas de difícil viagem; por outro, esta foi a 1ª viagem que fizemos quando chegamos há 6 anos e nunca mais voltei a Suai. Foi também neste distrito que foram construídas as primeiras escolas do projecto
5ª feira, dia 24 de Julho, após muitas peripécias para encher o depósito com gasóleo lá partimos em direcção a Suai. O Almério, infelizmente, não pode vir mas fui muito bem acompanhada pelo Cândido, o Rosário e o Abril, dos três apenas o primeiro fala um bocadinho de português. Foram horas e horas de viagem com “música” de fundo em tétun, o que me permitiu apreciar calma e isoladamente cada pormenor da viagem.

a nossa casa hoje...

a nossa casa antes...

o lado emocional

A casa da Xana é no Farol, o mesmo bairro onde nós morávamos, a casa é aliás praticamente ao lado da nossa antiga casa que está desocupada e muito adulterada. Cortaram a mangueira gigante que havia no quintal e a grande árvore na entrada da casa… uma dor de alma.
A Xana preparou-me uma recepção fantástica. Do aeroporto fomos praticamente directas para um dos restaurantes de praia e no dia seguinte, depois de um maravilhoso pequeno-almoço em casa da Tracey, fomos fazer um mergulho no K41. Que emoção! Fiquei feliz porque depois de 5 anos sem mergulhar lá me portei razoavelmente e fui capaz de voltar a apreciar aquele passeio inesquecível pelo fundo do mar.

díli



Se chegar a Bali foi como visitar a casa de um parente afastado, chegar a Díli foi como voltar a casa…
Ao contrário do que estava à espera, à conta dos vários avisos de diversos amigos, achei que Díli está bastante igual em relação há 5 anos atrás. Aquilo que encontrei corresponde à memória que tinha da cidade, da vida que a habita e da forma de estar dos timorenses e estrangeiros que por aqui se cruzam. O que isto provavelmente significa é que a normalidade está a regressar depois de 2 anos pontuados por uma grande instabilidade politica e forte insegurança.
Os campos de refugiados estão a ser desmontados, as pessoas estão a ser incentivadas e acompanhadas no regresso a casa e em geral as pessoas estão optimistas e com vontade de que o país siga em frente.
Há alguns pontos onde encontrei grandes diferenças e o mais positivo é que os timorenses já não são tão reverenciais na relação com os malai (estrangeiros). É normal ouvir timorenses e estrangeiros a tratarem-se por maun e mana (irmão e irmã), o que antigamente era impensável e o tratamento fica-se sempre pelo senhor/ senhora, mr. ou mrs.
Outro ponto positivo é o visível crescimento de uma classe média Timorense. É corrente encontrar famílias timorenses em restaurantes que antigamente eram exclusivamente acessíveis aos estrangeiros.
tal como esperava, aqui o acesso à internet é muito mais difícil e por isso o blog tem estado tão desactualizado... aqui vão mais notícias.

sábado, 19 de julho de 2008


chegada a Díli

… agora em tempo real

Estou no aeroporto de Bali à espera do hora do embarque. Cheguei cedo demais, mas queria ter a certeza que conseguia um lugar à janela. Por nada neste mundo perderia a chegada a Timor-leste…

fim do dia em bali

provocações

Chegar a Bali foi como voltar a casa de um familiar remoto… Ainda me lembrava do aeroporto, de onde se troca o dinheiro e qual a melhor maneira para apanhar um táxi rumo ao hotel. Percorri todas estas etapas com um sorriso…
A chegada ao hotel, em seminyak, foi brindada pelo cheiro das várias franjipani trees e pelas flores destas árvores nas orelhas de todas as estatuetas com que me cruzei….hum, Bali!!
Depois de uma investida frustrada nas compras, lá me dirigi para o lugar das massagens, onde me esperava a perfect massage, estrategicamente marcada com alguma antecedência. Foram 90 minutos de transe e uma das melhores massagens de sempre! Jari Menari, um nome a reter…em inglês dancing fingers!!
Em Bali reencontrei a Yoshi, uma amiga dos tempos de Timor, que por coincidência também regressou a Timor nesta altura.
Com ela tive direito à desforra no Kudetá (um restaurante maravilhoso em cima do mar) e um passeio nocturno na praia, com muito disparate pelo meio.
Um dia e meio em Bali… o suficiente para recuperar energia para a próxima etapa.

adeus e obrigada Alessandra!

o meu meio de transporte no Sri Lanka

aglomerados urbanos

a condição necessária para a criação de um aglomerado urbano, é a existência de um templo, arrozais e uma lagoa artificial para irrigação.

zona este do país - a área seca e zona de elefantes selvagens

ilha de weligama bay - uma amostra da ilha esmeralda

de saída do Sri Lanka

… no aeroporto a caminho de Díli…
Já passei por Bali e ficou tanta coisa para dizer do Sri Lanka.
Vou tentar acabar esse capítulo antes de me dedicar à parte tão maravilhosamente familiar: Bali e Timor.

Há uma coisa acerca do Sri Lanka que me perturbou imenso: há uma claríssima discriminação em relação aos estrangeiros. Em todo o lado, salvo raras excepções, hotéis, restaurantes, museus e afins têm um preço para locais e outro para os de fora. O mais chocante é a diferença de preço que chega a ser cerca 70 vezes mais caro para os estrangeiros. E não se trata de mera exploração do comerciante, é uma lei nacional.

Outra coisa que muito me impressionou, desta vez pela positiva, foi a vegetação. Mais do que em Bali, aqui a vegetação é absolutamente luxuriante e pela primeira vez vi o que é a densidade da selva, que conhecemos dos documentários da national geographic. O verde é tão impressionante que o Sri Lanka é conhecido como a ilha esmeralda.

O maior problema do Sri Lanka, confesso agora que já saí, é a guerra. Ao contrário do que eu (e outras pessoas) pensava, não se tratam apenas de uns incidentes entre guerrilha e forças governamentais, o país está em guerra e como tal fortemente armado. A presença militar nas ruas, sobretudo em Colombo, é impressionante. Em todo o lado há soldados armados, check points, muitas ruas estão preparadas com gradeamentos móveis para serem fechadas a qualquer momento, à entrada dos centros comerciais e templos as pessoas são revistadas e verificadas com detectores de metais. A ONU proíbe os seus funcionários de andarem em transportes públicos e à noite não há rigorosamente ninguém nas ruas.
Confesso que quando o avião levantou voo senti-me aliviada e que quando cheguei a Bali, para além de tudo o que é bom, apreciei o facto de ser um lugar em paz.

quarta-feira, 16 de julho de 2008


urbano#1

espaço urbano

acredito que talvez a maior dificuldade com que me deparei foi a relação com o meio urbano.
aqui, tal como nos outros países do sudeste asiático (segundo dizem) o espaço urbano é o caos total. Não há qualquer tipo de relação arquitectónica entre os edificios, que estruture o espaço urbano de forma contínua e reconhecível na nossa matriz de cidade. O espaço público é aquele que sobra entre os edificios e a rua, não há passeios e não há praças. Há hirárquicas viárias. Os edificios são apenas suportes de publicidade - isto é mais evidente nos pequenos centros urbanos das zonas rurais. E para completar o quadro, o trânsito e a poluição são literalmente esmagodores.

barefoot


outra coisa muito boa...
em casa, em casa dos outros e nos templos andei sempre descalça

terça-feira, 15 de julho de 2008


o meu posto de trabalho em kandy

The Sun House, Galle

The Fort in Galle by Bawa

blue water hotel by Bawa

barefoot café

interior/ exterior

Uma das coisas que mais gosto nos países tropicais é a possibilidade de criar espaços híbridos entre o interior e o exterior.
Graças ao constante calor, muitos edificos prolongam o seu interior para o exterior através de espaços apenas cobertos. São mais do que varandas, são espaços de estar, verdadeiras salas exteriores protegidas do sol e da chuva.
Deixo aqui alguns exemplos.

impressões

Amanhã saio do Sri Lanka, rumo a Timor.
Tenho a plena consciência, como já disse, que muito está por contar em relação a esta visita.
É impossível, neste momento, fazer uma refelxão aprofundada e já que nem sequer é esse o objectivo, deixo aqui algumas impressões sobre assuntos e temas diversos que me têm suscitado interesse e curiosidade.

segunda-feira, 14 de julho de 2008


...e os morcegos

...e mais elefantes

o banho dos elefantes

templo de Kandy

o meu retiro em Kandy

10, 11, 12 e 13 de Julho

Depois de Nuwara Eliya e de ver muita, mas muita, plantação de chá, cheguei finalmente a Kandy.
Esta é a 2ª cidade do país e a mais antiga. O reino de Kandy foi aquele que mais tempo resistiu aos Portugueses e Holandeses, para sucumbir às mãos dos Ingleses.
Os dois primeiros dias aqui passados foram ocupados entre descanso e blog. Só ao 3º dia me atrevi a enfrentar o árduo papel de turista (!) e lá fui passear com a minha amiga Alessandra e com a Gisele (uma brasileira, vinda de Timor), também ela turista
O jardim botânico de Kandy é uma das principais atracções, pelos seus relvados e variedade de flores. Percebo a razão do interesse mas para um europeu, que está morto por ver a luxuriante vegetação tropical, não tem graça nenhuma ver arbustos esculpidos e canteiros com flores. O momento alto deste passeio foi quando nos apercebemos que as árvores estavam carregadas, qual uma bela macieira, de morcegos!
No fim do dia fomos visitar o templo de Kandy, mais conhecido como o Templo do Dente. Segundo a lenda, e muito resumidamente, um dos dentes de Buda foi resgatado das cinzas do crematório e, depois de muitas travessias, escondido neste templo.
O templo estava cheio de monges e crentes porque nessa altura decorria uma cerimónia.
Domingo, dia de voltar a Colombo e paragem obrigatória no Elephant’s Orphanage.
Tal como o nome indica é um sítio onde há elefantes, muitos elefantes! É um parque natural onde são recolhidos elefantes feridos, órfãos, perdidos, etc.
Sorte das sortes e chegámos mesmo à hora do banho.
Lá acompanhamos os “piquenos” que chegados ao rio se espalharam a gosto. Lindo!
Em transe regressámos à estrada e finalmente ao fim do dia chegamos a Colombo.
Certamente obcecada, nessa noite comprei uma almofada cheia de elefantes!

sexta-feira, 11 de julho de 2008


o meu itinerário - cada cor representa uma etapa

no 1º patamar estão pessoas a tomar banho, reparem na escala desta cascata!

SOS Children's Village em Monragala

9 de julho

Dormida em Monaragala.
Depois de uma longa espera, à custa de mal entendidos ou mentiras, finalmente encontramo-nos com a equipa da ONG SOS Children’s Village, na qual estava incluído o arquitecto responsável por alguns dos projectos desta organização, que visitei e gostei. Trata-se de um arquitecto cingalês que tem um trabalho consistente e muito interessante. Ficamos de nos encontrar quando estivermos de volta a Colombo.
E com esta última incursão dei por terminadas as visitas de estudo e sou agora uma simples turista!
Partimos de Monragala em direcção a Nuwara Elya. Uma viagem de 5 horas, literalmente a trepar montanhas. Esta pequena cidade fica a quase 2000m de altitude e é conhecida por “Little England”, o que não podia ser mais apropriado… está um frio de rachar, tem um campo de golf, um circuito de corridas de cavalos, um lago, nevoeiro, flores tipo rosas, malmequeres e, o mais importante, uma plantação de chá absolutamente gigantesca. É daqui que vem o famoso chá de Ceilão.
Está tanto frio que tive que ir comprar um casaco ao mercado local (uma categoria!) e a preocupação no hotel (mais um monumento a essa maravilhosa industria) foi verificar a existência de água quente e aquecedor, em vez da rede mosquiteira e ventoinha.

procissão de elefantes carregando as folhas sagradas

no templo de Kataragama

Casas Shigeru Ban em Kirinda

Kirinda bay

8 de julho

Hoje foi um dia de grandes emoções.
O dia começou em kirinda, uma pequena aldeia de pescadores na costa sul do país.
Depois de mais uma noite num sítio horrendo (um eufemismo ou uma má piada, poderia ser: um hotel em desenvolvimento), descobri o templo de kirinda. Um pequeno templo no topo de um afloramento rochoso, onde imensas árvores “temple tree” (para os afortunados que conhecem bali: são ás arvores das flores brancas super perfumadas) dão sombra aos espaços de oração. No chão a areia conforta os pés que obrigatoriamente estão descalços. Finalmente, o templo budista, branco e redondo premeia o promontório sob o qual o mar e a paisagem envolvente são a perder de vista. Lindo!
Depois do tempo de contemplação, fomos conhecer as casas do Shigeru Ban, um arquitecto japonês muito conhecido. Estas casas eram para mim (ou são, já não sei) a jóia da coroa dos projectos de reconstrução pós-tsunami. São casas onde uma tipologia foi criada, supostamente para melhor responder às necessidades sociais e espaciais daquela comunidade. O resultado é um desastre: as casas são lindas, a tipologia super interessante, os materiais a condizer mas as pessoas detestam-nas.
Depois deste pesado insucesso voltámos ao projecto UN-Habitat em Yodankandya, perto de Kirinda, que já tínhamos visitado no dia anterior com o responsável local desta organização. O senhor não era de grandes conversas e, nessa altura, ficaram muitas perguntas por fazer. Por isso, voltámos. Queria confirmar com a população a autenticidade do conceito de intervenção que a UN-Habitat tão insistentemente apresenta: a comunidade participa em todas as fases do projecto, desde a concepção à construção. Confirma-se. A agência consultou a comunidade para a definição da «planta» (nem acredito que escrevi isto!), atribuiu uma verba a cada família, e coube a cada agregado construir a sua própria casa através da contratação de mão-de-obra qualificada ou não. Cada um adaptou a «planta» original às suas necessidades e gostos, e o resultado é que são as únicas pessoas que alegremente afirmaram que gosta da sua nova casa.
Duas histórias que vão dar muito que pensar. Com certeza que voltarei a este tema mais tarde, preciso do tempo de incubação para produzir uma opinião.
Depois das visitas aos projectos, fomos a Kataragama. Felizmente que dois dias depois de começar a viagem, pedi ao Lalith para me mostrar sítios a não perder no Sri Lanka. Este foi um deles. Trata-se de um local sagrado de peregrinação para budistas, muçulmanos e hindus. Aqui todos se dirigem sempre, em qualquer altura do ano, a qualquer hora. Há momentos de maior concentração: final do dia, de manhã cedo, ao fim de semana e durante o festival que anualmente acontece nesta altura do ano. Hoje, ao meio-dia (em plena hora do calor!) lá estávamos. Laltih informou-me que era muito raro ver um branco por ali… e logo eu tão branca!
Foi uma visita inesquecível, sobretudo porque, quando já estávamos de saída, tive a sorte de assistir à procissão dos elefantes que anualmente, ou seja uma vez por ano, trazem as folhas sagradas para cobrir as entradas dos templos. Eu que tinha passado a manhã a dizer que queria ver elefantes, nem queria acreditar! Fotografias se seguirão.
Depois deste momento zen tive os 40/50 minutos mais stressantes da minha vida… de Kataragama sai uma estrada para Butalla (o nosso destino seguinte) que tem estado fechada até há pouco tempo por questões de segurança. O Laltih, que é policia, fez os seus contactos e concluiu que poderíamos fazer essa estrada. Eu insisti, mas veja lá não vale a pena, damos a volta e tal, «no, madam. It’s safe», ele insistia. Ok, lá fomos. Bom, confesso que quando chegámos à dita estrada e percebi que ele estava com medo, ía morrendo! Foram cerca de 30km de «muito medo»! A estrada atravessa o Yala Park, um parque natural conhecido pela sua vida selvagem - pelos os vistos este grupo inclui para além dos elefantes, leopardos e companhia, os Tigre Tamil. Ao longo desses 30km, a vegetação foi cortada dos 2 lados da estrada, numa faixa de 20m, de modo a que se alguém atacar sejam pelo o menos visíveis… morrer em consciência, porreiro! De quilómetro em quilómetro, ou de 500 em 500 metros (ou até menos) havia um posto militar, verdadeiros bunkers. Isto tudo e mais o facto de sermos praticamente os únicos na estrada, numa carrinha azul que (fiquei a saber então) é a cor de tudo o que é militar, policia, etc. Muito bom… o stress foi tal que não tirei nenhuma fotografia. Imaginem, eu no bunker, eu a levar um balázio…
Enfim, fica uma bela história para contar, mas já disse que não quero brincar mais aos rambos e amanhã em vez de irmos para a costa este, onde o ambiente não é muito bom, vou fazer turismo e ver coisas bonitas!
Quanto ao Lalith, não fiquemos a achar que é um irresponsável… ele de facto informou-se, e a verdade é que aquela zona agora é segura, mas é ainda uma zona de grande instabilidade.
Depois disto tudo, estou em Monaragala, num hotel mortalmente piroso mas suficientemente equipado e limpo para poder estar a fazer o que gostaria de ter feito todos os dias: escrever as histórias do dia! Agora só tenho que esperar por chegar a um sítio com Internet, talvez no fim-de-semana….

quinta-feira, 10 de julho de 2008


SOS Children's Villages em Gandara

templo de Weherahena

7 de julho

Apesar de mal dormida, comecei bem o dia.
Visitamos o templo de Weherahena, que não é particularmente bonito mas tem uma impressionante quantidade de pinturas murais, onde estão representadas as 550 histórias de Buda.
Estamos em plena costa sul.
Em Matara, não houve nada a assinalar a não ser a história macabra das mulheres que lavam a roupa no rio e que sistematicamente ficam sem um braço, graças a um ataque de crocodilo. E elas continuam a lavar ali? «yes, madam».
Em Gandara visitamos mais uma escola da ONG SOS Children’s Village, uma reconstrução de uma casa antiga muito bem feita.
Havia alguns projectos a visitar em Tangalle, onde as praias são dignas dos melhores postais e depois se tivéssemos tempo seguíamos para Hambantota.
Um dos projectos de Tangalle, foi a grande desilusão. Supostamente teria havido imensa participação da comunidade. Não só não houve, como o projecto é pouco interessante. Fiquei tão chateada que ficamos pouco tempo.
Em direcção a Hambantota telefonei ao responsável da UN-Habitat desse distrito, que me intimou a dirigir-me rapidamente para lá, pois no dia seguinte estaria indisponível. Ao chegar a Hambantota percebemos que ele estava em Kirinda, mais 40 minutos de viagem. Pelo caminho ficou sem visita um enorme projecto de 2000 casas financiado por Taiwan e um projecto da Cooperação Portuguesa, do qual só vi a placa de sinalização.
Lá chegamos a Kirinda. Fui recebida pelo Sr. Lionel que me convidou a entrar na sede de tão digna agência. Lá dentro mandou-me sentar enquanto ocupava uma cadeira sebenta literalmente no meio da sala. Sem espaço para dúvidas sobre quem mandava ali, o senhor iniciou um monólogo absolutamente incompreensível, interrompendo apenas para ir cuspir as bagas que mastigava enquanto debitava sobre a estratégia de intervenção da referida organização. Depois desta cena, lá fomos visitar o projecto na companhia dele e de um séquito considerável sobre o qual desconheço as responsabilidades.
No local não consegui falar com nenhum dos habitantes, mas fiquei com vontade de lá voltar.
Fiquei bem impressionada com os edifícios de uso comum, a biblioteca, a escola e sala de reuniões. São projecto da Architecture for Humanity, uma ONG Americana que tem feito um grande trabalho no contexto da arquitectura e desenvolvimento.
Já me tinham avisado, mas foi uma surpresa constatar. O clima a partir de Hambantota muda radicalmente e com ele a paisagem. De repente, e é mesmo de repente, o calor é seco e a paisagem tropical luxuriante dá lugar a uma vegetação menos densa e tudo é mais seco.
Esta mudança acontece porque o Sri Lanka tem duas zonas distintas que se diferenciam pelo clima, por diferentes estações de monções, pela vegetação, tipo de solo, etc. É impressionante a diferença.

Turkish Village

Forte de Galle

6 de julho

Depois de duas noites em Galle, na companhia da Alessandra e de alguns dos seus amigos, voltámos à estrada em direcção a Mirissa.
Antes de fazermos as visitas aos projectos de habitação pós-tsunami, fui espreitar um pequeno hotel, estilo colonial, muito bonito e simpático. Estava eu a fazer a figurinha da turista a fotografar desalmadamente quando um grito, ou um rugido, de um macaco me paralisou. Iria jurar que ele estava a dois metros de mim, mas perante a passividade total do senhor que amavelmente me guiava, perguntei em tom de confirmação «monkey?», ele confirmou com o mesmo ar com que teria dito living room e apontou para uma árvore ali ao lado. Ok, pensei eu, ele não está aqui, está ali… muito melhor!
E lá fomos nós visitar projectos.
Começamos por ver a Turkish Village, um projecto gigante de 200 casas, com uma tipologia interessante mas com a já habitual falha: a inexistência de chaminé. Estas comunidades ainda cozinham com fogo, logo a chaminé é de facto fundamental. Como consequência temos a sistemática construção de anexos improvisados e muitíssimo precários junto às casas.
Este também foi o dia em que visitamos, em Weligama, o projecto financiado por um empresa internacional de seu nome Loadstar, que desconheço. Foi o projecto que mais impressionou pela evidência da quantidade de dinheiro ali investido, não na construção das casas mas nos arranjos exteriores e espaços público. As 98 casas distribuem-se pelo terreno, relativamente acidentado, obrigando à construção de muitos muros de suporte. Mas o impressionante é que estes muros têm grande qualidade e são complementados com valas de drenagem de águas pluviais. O corolário desta intervenção é a construção de um templo, no cimo do monte, junto à aldeia. Foi necessário escavar o monte para fazer o acesso ao templo, construir a respectiva estrada e obviamente o templo propriamente dito.
A população está muito satisfeita o que é raro.
A partir das 6 da tarde é noite, pelo o que cerca das 5.30h começamos à procura de um sítio para ficar. Desta vez, isso não ia ser um problema porque tinha uma recomendação da minha amiga Sandra para ficar num sítio fantástico em Mirissa bay.
Bom confesso que foi durante esta noite que pensei que sou um bluff, que afinal não sou aventureira e que tenho medo… mas mais do que medo, tenho nojo… e que as duas coisas juntas resultam numa noite infernal.
Para fazer o enquadramento, tenho que explicar que o hotel era constituído por uns bungalows (note-se que isto não significa um belo sítio) em cima da praia e que para além de mim, havia um casal de ingleses. Portanto, não só estava praticamente sozinha como o meu quarto tinha acesso directo pelo exterior. Este, obviamente mau, tinha uma particularidade que tornou a minha noite num pesadelo: por cima da cama tinha um interruptor, onde dizia emergency bell. Ora bem, que tipo de emergência estamos a falar? Vêm aí um tsunami? Há ladrões? Os Tigres Tamil estão a atacar? E se alguma destas ameaças fosse verdadeira, era de facto uma campainha que me ia salvar?
Para além da segurança, o pormenor da limpeza… digo só que dormi vestida e que tinha nojo de tocar na rede mosquiteira. Isto pôs-me num dilema, o que é pior a malária ou imundice? Ganhou o medo da malária e lá dormi por baixo daquela coisa.
Como sempre a manhã apazigua o espírito e mais calma, mas mal dormida, passeei na praia e jurei que nunca mais ficava num sítio assim, recomendado ou não.

actualizações

Mais uma paragem com internet e aproveito para actualizar este blog com novas histórias.
Tenho tido a discplina, ainda que por vezes indisciplinada, de escrever todos os dias. Fica um roteiro, como uma espécie de diário.
Tenho a plena noção que muito tem ficado por dizer, mas espero que, aos poucos com as histórias e fotografias que aqui vou deixando, consiga construir uma imagem desta minha passagem pelo Sri Lanka.
Numa inversão daquela que é a tradição blogger, proponho que os comentários também sirvem para fazerem perguntas.

domingo, 6 de julho de 2008


talpe

sábado, 5 de julho de 2008


ao lado da estrada marginal corre o caminho de ferro

Un-Habitat, Galle

seragama


galle road


tenho internet (um luxo) e vou aproveitar para contar um pouco mais desta história.


Partimos de Colombo em direcção ao Sul.
Na primeira paragem, em Piliyandala, ainda perto de Colombo, conheci Cedric de Silva, o director da ONG alemã, SOS Children’s Villages.
A propósito deste encontro vale a pena fazer uma incursão aos vestígios da presença portuguesa neste país. Para mim foi uma surpresa constatar que ainda há muito nomes de família de origem portuguesa; é o caso do nome que acima referi; da famosa cadeia de padarias Perera&Sons Bakery; da óptica Salgado; do loja Carvalho e dos inúmeros letreiros com o nome de Silva que vão pontuando as intermináveis lojas na Galle Road.

A Galle Road, por aqui conhecida por highway, é um verdadeiro monumento ao paradigma da construção junto à estrada nacional, que tão bem conhecemos em Portugal. No entanto, aqui tal como com a vegetação, a densidade é impressionante, são quilómetros e quilómetros de construção contínua, perfeitamente aleatória quer do ponto de vista urbano como arquitectónico… vulgo o caos!
Voltando à denominação de highway… esta será provavelmente a melhor estrada do país, pois é aquela que liga a capital à costa sueste onde se concentram os turistas. Auto-estrada é definitivamente um eufemismo para designar uma estrada banal de 2 sentidos, onde a vida de qualquer viagem é posta à prova a cada quilómetro… é frequente que durante uma ultrapassagem se encontrem 3 carros lado a lado.
Feito o enquadramento (esta é para a Sara) concentremo-nos nas visitas aos “Tsumani Housing Projects”. Ao segundo dia já visitei 7 projectos deste tipo. Falei com várias pessoas, desde os beneficiários, aos técnicos das agências de implementação, até aos próprios construtores.
Ainda não tenho uma opinião sobre o que tenho visto... deixo algumas imagens para terem uma ideia do que é o Sri Lanka e os projectos em causa.